Desde que assumiu o comando da Prefeitura de Manaus, em janeiro de 2021, David Almeida (Avante) obteve autorização da Câmara Municipal para contrair mais de R$ 6,5 bilhões em empréstimos.
A cifra representa um dos maiores volumes de endividamento da história recente da capital amazonense.
O crescimento do endividamento tem sido constante.
O maior salto ocorreu em 2025, quando dois projetos somaram R$ 3,65 bilhões em novas autorizações.
Crescimento acelerado da dívida de Manaus
O primeiro financiamento autorizado foi em 2021: R$ 470 milhões com o Banco do Brasil.
Em 2022, a Prefeitura contratou mais R$ 100 milhões com a Caixa Econômica Federal.
Em 2023, foram três novos financiamentos, totalizando R$ 1,78 bilhão.
No ano seguinte, em 2024, a Câmara aprovou o Projeto de Lei nº 069/2024, que permitiu R$ 580 milhões com o Banco do Brasil.
Mas o recorde veio em 2025:
- R$ 2,5 bilhões com garantia da União, junto a bancos públicos;
- R$ 1,15 bilhão com o BNDES, para infraestrutura.
Com isso, o total autorizado ultrapassa R$ 6,5 bilhões.
Obras prometidas ainda não saíram do papel
O Executivo justificou os pedidos de empréstimo com uma série de obras e programas estruturantes.
Entre os projetos anunciados estão:
- Interligação das avenidas Efigênio Sales e José Lindoso
- Complexo viário entre Av. Brasil e Av. Cel. Teixeira
- Desassoreamento de igarapés
- Construção do Parque Rosa Almeida e Praça da Bíblia
- Reformas em feiras e mercados
- Moradias para famílias de baixa renda
- Obras em vicinais na zona rural
- Instalação de equipamentos comunitários
- Modernização tributária com aquisição de softwares
No entanto, menos da metade das obras saiu do papel.
A constatação é do perfil Manaus 40 Graus, que analisou dados do Portal da Transparência da Prefeitura.
Falta de transparência e prestação de contas
Além da baixa execução, a falta de transparência nos contratos é motivo de críticas.
Não há divulgação pública de dados fundamentais, como número de parcelas, taxas de juros e cronogramas de execução.
Nos casos onde essas informações aparecem, os contratos preveem:
- Prazo de até 15 anos para pagamento
- Juros atrelados ao CDI
- Taxas adicionais de até 1,5% ao ano
Esse modelo compromete parte significativa da arrecadação futura da cidade.
Com os prazos atuais, a quitação total da dívida deve ocorrer somente em 2038.
A Câmara aprovou dívidas em tempo recorde
Outro ponto de tensão é a celeridade da Câmara Municipal nas aprovações.
O maior empréstimo, de R$ 2,5 bilhões, foi aprovado em menos de 24 horas.
A votação relâmpago gerou críticas da oposição.
O vereador Rodrigo Guedes classificou o projeto como “cheque em branco” ao Executivo.
Ele também denunciou a ausência de prestação de contas dos empréstimos anteriores.
Até o momento, não há comissões parlamentares específicas para fiscalizar a aplicação dos recursos.
Dívida alta, execução baixa e impacto fiscal
A estratégia da atual gestão se apoia fortemente em financiamentos externos.
Porém, a baixa execução das obras, somada à falta de fiscalização legislativa, levanta dúvidas sobre o real impacto dos investimentos.
Especialistas em finanças públicas alertam:
“O risco é de desequilíbrio fiscal, caso a arrecadação não cresça na mesma proporção”, afirma o economista Ronaldo Martins, consultado pelo jornal local Amazonas em Tempo.
Quem pagará a conta até 2038?
Se todos os contratos forem honrados, a dívida pública deixada por David Almeida atravessará pelo menos três gestões futuras.
A falta de garantias de execução e transparência pode gerar um legado de dívidas e obras inacabadas.
A pergunta que resta é: quem arcará com os custos — e quando?